
“Tem
se especulado que esse pleito possa vir a ser a primeira eleição onde a
internet assuma papel protagonista”, resume o sociólogo e cientista
político Antônio Lavareda, que já trabalhou em mais de 90 eleições
majoritárias (campanhas para presidente, governador e senador).
Nas
plataformas da internet, diferente da televisão e do rádio, que
veiculam o horário eleitoral gratuito, a comunicação é individualizada e
interativa. Os conteúdos são mediados pelos usuários, em lugar de
vídeos e peças sonoras veiculados para grandes audiências - sem
possibilidade de resposta ou de reencaminhamento. “A mensagem
encaminhada, que consegue penetrar em grupos, é mais influente do que
aquela que vem pela televisão”, afirma o estatístico e doutor em
psicologia social, Marcos Ruben.
Fábio Gouveia, coordenador do
Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura da Universidade
Federal do Espírito Santo (UFES), assinala que “a atenção não está mais
concentrada na televisão” e, nesta campanha, os usuários “assumem papel
de filtros disseminadores”, repassando ou retendo mensagens às pessoas
com quem estão conectadas.
Christian Dunker, professor titular
do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), aponta
que a internet “viabiliza informação para uma quantidade grande da
população que estava excluída do debate político”. Segundo ele, “isso
ajuda a entender as formas de tratamento, usos de imagem, estratégias de
retórica intimidativa e bipolarizante [hoje verificados] que eram menos
acessíveis quando tínhamos a campanha baseada na televisão”.
Riscos
Os
especialistas não desconsideram os riscos da próxima campanha eleitoral
como a circulação de notícias falsas, deformação de mensagens,
difamações generalizadas e manifestações de ódio e intolerância.
Para
o jornalista Mário Rosa, especialista em gestão de crises de imagem, há
forte possibilidade que, em paralelo à campanha positiva e com
propostas no horário eleitoral, haja forte campanha negativa na troca de
mensagens. “O disparo do WhatsApp não pode ser monitorado e nem
auditado. Podem atacar e não vai se saber qual a origem dos ataques”,
alerta Mário Rosa ao lembrar que “o objetivo da campanha eleitoral não é
informar, mas convencer”.
Na mesma linha, Christian Dunker
não afasta a possibilidade, especialmente ao fim da campanha, de serem
disseminados “fatos políticos que possam vampirizar candidaturas e
interferir nos resultados”.
Números
O
Facebook chegou a 127 milhões de usuários neste ano no Brasil e o
WhatsApp tinha cerca de 120 milhões de pessoas ligadas no ano passado
(20 milhões a mais do que em 2016). Facebook e WhatsApp não informaram o
crescimento de usuários que tiveram entre a eleição de 2014 e até o
momento.
Segundo o Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e
de Serviços Móvel Celular e Pessoal (SinditeleBrasil), nos últimos
quatro anos, o número de usuários de aparelhos celulares 3G e 4G (que
permitem acesso a redes sociais) passou de 143 milhões para 188 milhões –
diferença de 45 milhões, superior à população da Argentina.
A
Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar do IBGE contabiliza que “entre
os usuários da internet com 10 anos ou mais de idade, 94,6% se
conectaram via celular”. (Agência Brasil)
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