Ana
Carolina Nogueira, coordenadora do curso de Psicopatologia do IPOG,
comenta impactos da doença, que possui relatos clínicos desde 1695. A
atriz Bruna Marquezine relatou nas redes sociais ter tido problemas com
distúrbios alimentares.
Recentemente
a atriz global Bruna Marquezine desabafou nas redes sociais após sofrer
ataques de fãs por seu corpo “magro” – que conforme a atriz, a opção
foi motivada por um personagem em que fez na última novela em que
participou (Deus Salve o Rei). Mas os comentários, e a posição de
Marquezine, desencadearam nas redes um tema importante para a sociedade
atual: a anorexia – um distúrbio alimentar que leva a pessoa a uma
obsessão pelo seu peso e por aquilo que come.
No
desabafo, a atriz admitiu que em certo momento de sua vida, achava que
era preciso realmente emagrecer. E por isso adotava medidas drásticas,
como o uso regular de laxantes. “Eu tomava laxante todos os dias, por
mais de três meses. Junto com tudo isso eu tive depressão, não só por
isso, mas principalmente por esses motivos, questões de autoestima, por
não me aceitar, não me achar bonita o suficiente. Consequentemente eu
não me achava boa o suficiente para nada”, relatou a atriz.
De longa data
A
psicóloga Ana Carolina Nogueira, coordenadora do curso de
Psicopatologia - Configurações do Sofrimento Psíquico na
Contemporaneidade do Instituto de Pós-Graduação e Graduação (IPOG)
relata que a anorexia, a bulimia e demais transtornos alimentares não
são fenômenos da modernidade ou pós modernidade. “Há relatos e
descrições clinicas da anorexia desde 1695”, afirma a psicóloga. Este
distúrbio era, na época, relacionado às questões místicas da sociedade,
como jejuns religiosos e promessas de votos de fome.
Distúrbio
A anorexia é o transtorno psiquiátrico que mais mata, segundo estudos publicados pela Arch Gen Psychiatry (2011).
Ainda de acordo com o estudo publicado, o suicídio possui uma conexão
com este distúrbio. A professora também pontua que mais de 90% dos
pacientes com anorexia e bulimia são do sexo feminino. “Geralmente são pacientes descritas pelos pais como moças perfeccionistas, estudiosas, dedicadas, boas filhas...” explica.
A
psicóloga pontua que o âmbito social que cobra uma perfeição estética, é
o cenário propício para o surgimento dos transtornos alimentares. “Hoje
temos um panorama que facilita esse tipo de aparecimento de sofrimento
psíquico”.
De
acordo com a especialista, o quadro ocorre prevalentemente na
adolescência, um período de vulnerabilidade da personalidade social onde
procura-se um grupo para que se estabeleça uma identidade. “Quando o
adolescente procura um grupo social para se estabelecer, acaba se
deparando com a cobrança de um corpo perfeito, determinado padrão de
vida e a felicidade em tempo integral. Isso resulta em uma cobrança pela
perfeição”.
Ao
tentar se aproximar da imagem que é vendida socialmente, esse
adolescente acaba tendo que perder um pouco mais para atingir os padrões
impostos erroneamente. “É então quando eles acabam sofrendo com esses
problemas, porque sempre há alguém mais magro, mais gordo, mais rico”,
argumenta a especialista Ana Carolina.
A
psicóloga ainda explica que esses transtornos alimentares podem surgir
na medida em que dietas severas fogem do controle. “Geralmente esses
distúrbios começam após dietas muito restritivas. Onde essa busca por
sempre perder mais peso acaba saindo do controle da pessoa”. Ana
Carolina conta que é comum que decorrente a este distúrbio gere-se um
transtorno de imagem corporal, onde o indivíduo não mais enxerga a
imagem real de seu corpo e pensa que não emagreceu o suficiente.
Tratamento
Para
o tratamento da anorexia, Ana Carolina destaca que é preciso um
acompanhamento multidisciplinar, para que se atinja efeitos
consideráveis no tratamento. “É um quadro que envolve muitas outras
áreas, por isso, na esfera pública observamos avanços melhores no
tratamento, uma vez que é mais fácil o contato entre os
multiprofissionais”, avalia a psicóloga.
Essa
equipe deve ser composta principalmente pelos seguintes profissionais:
psiquiatras, psicólogos, nutricionistas, assistente social e clínico
geral. “Com profissionais isolados, o fracasso é muito maior, pois não é
possível realizar todo o acompanhamento necessário”, adverte Ana
Carolina. (Luiz Claudio Fernandes)
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