
Após o vazamento de 2007, o rio Pará foi poluído, mas chegou aos
igarapés do Dendê, Curuperé, São João e aos rios Mucurupi e Das Cobras,
que foram gravemente afetados. Quem ainda consumiu a água suja, adoeceu
de várias formas. Após muitos problemas, a empresa e a prefeitura
chegaram a uma solução. Uma empresa chamada São Francisco criou uma rede
de distribuição de água encanada.
Nesse vazamento histórico, mais de 350 mil litros de água misturada
com caulim e outros rejeitos escaparam do terceiro tanque de contenção
da Imerys. À época, representantes da empresa reconheceram que lidavam
com “vazamentos controlados”, que seriam de “baixo impacto ambiental e
facilmente contornáveis”. Mas os resultados atingiram ao menos 500
famílias dessas áreas. Ao menos 100 precisaram sair de suas casas, por
ordem da Defesa Civil.
O Laboratório de Química Analítica e Ambiental da Universidade
Federal do Pará (Laquanam/UFPA), no entanto, contestou essa versão de
baixo risco do caulim. E informou que essas águas foram poluídas por
anos, sequencialmente, com caulim. A empresa se instalou em Barcarena em
1996. O produto da indústria é uma argila branca, usada em papeis,
cerâmicas e tintas.
Cleia afirma que a água encanada da São Francisco é de baixa
qualidade. Ela mostrou à reportagem. De fato é: escura e ferrugenta. “Só
serve para roupas, limpeza.. até para banho não é boa. Para consumir,
não dá. É no garrafão de água mineral direto. A água dobrou de preço”,
relata. Os filhos e ela já adoeceram por consumir a água da São
Francisco. Lembra com saudade do poço que tinha, mas que teve de fechar
por contaminação de caulim.
REFORMA
Outro problema tem tirado o sono dos moradores que moram de frente
com a barragem da Imerys: a reforma da pista da empresa está destruindo
as casas, afirmam. A casa de Cleia está trincada e cheia de rachaduras.
Tudo desde que a obra começou, há cerca de cinco meses.
A obra, além de recompor o asfalto, está acrescentando uma nova vala e
um tubo. Possivelmente, um novo sistema de drenagem da pista, em caso
de chuva ou qualquer outro acidente. Para onde vai o tubo, quando ficar
pronto, os residentes da área não sabem, mas desconfiam.
De todos os transtornos nas casas do moradores, nada se compara ao
dano causado ao imóvel de Maria do Socorro Ribeiro, de 54 anos. Ela
conta ser uma das primeiras moradoras do bairro Industrial, na avenida
Brasil. A obra da empresa de caulim fez a casa dela desabar. Nos
primeiros buracos abertos nas paredes, a empresa fez um “reparo” com uma
tábua de compensado e disse que estava seguro. Dias depois, tudo
desmoronou de vez. A casa parece ter sido atingida por um bombardeio.
“Os bombeiros condenaram minha casa. Mandaram eu sair. Precisava
mesmo. Aí a empresa me deu um auxílio de R$ 250 de aluguel. O que eu vou
alugar com isso? E ainda ficavam dizendo: olha, não chame a imprensa, a
gente resolve. Isso que é a resolução? Essa empresa, em um dia,
destruiu o que me custou 13 anos de trabalho na prefeitura para
construir. Faz cinco meses que estou fora de casa”, desabafa Socorro.
IMERYS OPERA COM DUAS BACIAS
Em nota enviada à redação, a Imerys informa que as suas operações no
Pará “possuem atualmente duas bacias em operação em Barcarena: a BC-03 e
a BC-06. As bacias operam de acordo com a legislação vigente e com
reportes rotineiros aos órgãos fiscalizadores”.
“Foram investidos nos últimos três anos R$ 35 milhões para garantir a
operação segura das bacias.
Medidas como o revestimento com geomembrana
para o isolamento do solo, moderna estação meteorológica, estudos de
estabilidade dos maciços com sondagens, análises geotécnicas e bacia de
segurança fazem parte desses investimentos”. “Além destes investimentos,
a Imerys também monitora os níveis das bacias por 24 horas, buscando
sempre que os mesmos atendam a legislação e os padrões de segurança
máxima do sistema”
“A empresa afirma que existe um plano de emergência e que as mesmas
medidas de segurança e monitoramento são aplicadas às demais bacias
desativadas”, informa a nota, ao complementar que as “bacias armazenam
basicamente água e caulim”.
ALUNORTE MONITORA DEPÓSITOS
Em nota enviada à redação, a Alunorte informa que “possui dois
depósitos de resíduos sólidos – DRS1 e DRS2 – com tecnologia de
empilhamento a seco, o que resulta em um material que tem um percentual
altamente sólido. Ambos não são classificados como barragens pela
legislação brasileira.
As áreas de depósito de resíduos sólidos da
Alunorte possuem sistema de filtragem dos resíduos, o Filtro Prensa,
coleta de água e gestão de efluentes com a tecnologia mais avançada do
mundo para o descarte de resíduos sólidos de bauxita e são monitoradas
por instrumentos geotécnicos que garantem sua segurança e estabilidade
operacional, além de serem avaliadas em auditorias e inspeções internas e
externas. O DRS 2 permanece sob embargo judicial.”
“A Alunorte conta com o Plano de Atendimento à Emergência e está
desenvolvendo o Plano Emergencial de Apoio às Comunidades (PEAC). Entre
as ações previstas: a empresa capacitou uma brigada de emergência
ambiental comunitária em 2018, que tem como objetivo alertar e orientar
as comunidades do entorno o mais rapidamente possível, com foco nos
eventos decorrentes da operação da refinaria.”
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