A história, a destruição desenfreada e os desafios de preservação dos
sítios arqueológicos formados por terra preta, ricos em fragmentos
pré-coloniais que remontam à ocupação humana na Amazônia, são
apresentados no livro "Terra Preta - Passado, Presente
e Futuro", do arqueólogo, jornalista e fotógrafo Edvaldo Pereira.
Editada pela Imprensa Oficial do Estado em 2018, quando foi lançada no
Salão do Livro do Baixo-Amazonas, em Santarém, a obra terá relançamento
em Belém nesta sexta-feira (30), às 18h30, na 23ª
Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes, no Hangar - Centro de
Convenções e Feiras da Amazônia.
Abundante em toda a Amazônia, a chamada Terra Preta Arqueológica (TPA) ou Terra Preta de Índio (TPI) é resultado da interação das sociedades indígenas pré-coloniais com o solo da região, geralmente pobre em nutrientes, que garantem a fertilidade. De formação milenar, este solo apresenta coloração escura, fragmentos de material cerâmico, artefatos líticos, carvão e elevados teores de vários elementos, como cálcio, magnésio, zinco, manganês, fósforo e carbono. Tais características a tornam altamente fértil e, portanto, cobiçada para atividades agrícolas e de jardinagem.
Artefatos - O livro denuncia a exploração comercial
da terra preta na Amazônia, em especial na região de Santarém, no oeste
do Pará, sem o devido desenvolvimento de pesquisas mais aprofundadas com
esse tipo de solo, inclusive para seu aproveitamento
de forma sustentável na agricultura, bem como em relação aos
incontáveis artefatos arqueológicos nele encontrados, registrados por
cronistas e naturalistas desde o século XVI.
Edvaldo Pereira reforça que Santarém está sobre uma rica e extensa
malha de sítios arqueológicos pré-históricos, que guardam vestígios de
ocupações milenares ainda pouco estudados. "É quase impossível cavar um
pedaço de chão em Santarém e região e não perceber
a existência da Terra Preta e dos cacos de cerâmica misturados com este
solo. Isso salta aos olhos, mesmo de uma pessoa leiga no assunto",
argumenta.
Segundo o autor, o interesse pelo tema se deu a partir da percepção
quanto à identificação da população santarena com seu patrimônio
arqueológico e à ausência de políticas públicas municipais sobre o
assunto. "Fiz um levantamento da legislação santarena
ao longo de sua história. É como se a Terra Preta e os demais recursos
arqueológicos milenares do município não existissem. E isso é
assustador", afirma o jornalista.
"As terras pretas estão distribuídas em toda a Pan-Amazônia. No
entanto, a terra preta de Santarém é famosa por ter sido a primeira a
ser descrita por pesquisadores, ainda no século XIX. Porém, ainda hoje
não conseguimos desvendar todo o processo de interação
que resultou na formação da terra preta", afirma a geoarqueóloga Lilian
Rebellato, da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), que
orientou a pesquisa.
A geoarqueóloga Dirse Clara Kern, do Museu Paraense Emílio Goeldi,
que assina o prefácio do livro, destaca a importância da publicação
neste campo da ciência. "Esta obra possibilita ao leitor passear pelas
Terras Pretas ao longo dos séculos, até os dias
atuais, através do ponto de vista dos naturalistas viajantes que por
aqui passaram, mostrando a importância e o fascínio que ainda hoje esses
solos exercem sobre a sociedade", ressalta Dirse Kern.
Fruto de uma pesquisa inédita, o livro também aponta caminhos para
criação e aperfeiçoamento de instrumentos de gestão, sejam eles
urbanísticos, jurídicos e tributários, capazes de reconhecer o
patrimônio arqueológico e suas implicações sociais e econômicas.
"É preciso buscar a participação de toda a sociedade na proteção da
terra preta, enquanto componente imprescindível do patrimônio cultural e
da biodiversidade regional. Além da compreensão do passado, também está
em jogo a construção de um futuro melhor, ecologicamente
equilibrado e sustentável", reforça o autor do livro.
Biografia - Edvaldo Pereira é arqueólogo, formado
pela Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), e presta consultoria
científica para empresas de Arqueologia Preventiva com atuação em todo o
Brasil. Em 2017 obteve a segunda colocação
no concurso nacional de monografias Prêmio Luiz de Castro Faria - 5ª
edição, promovido pelo Centro Nacional de Arqueologia e Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (CNA/Iphan) com o trabalho
"Terra Preta em Santarém (PA): Usos, percepções e
apropriações", que deu origem ao livro.
Possui ainda experiência na área de Comunicação, tendo atuado como
jornalista e repórter fotográfico em diversos veículos nacionais e
regionais. Foi editor de fotografia do jornal Diário do Pará. Desenvolve
um trabalho de documentação fotográfica na Amazônia,
registrando sua população e as manifestações diversas de sua cultura.
Serviço: O lançamento do livro "Terra Preta -
Passado, Presente e Futuro", de Edvaldo Pereira, será nesta sexta-feira
(30), às 18h30, no estande da Imprensa Oficial do Estado, localizado ao
lado da Arena Multivozes, na 23ª Feira Pan-Amazônica
do Livro e das Multivozes, no Hangar, em Belém.
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